(Imagem da Série O Cangaceiro do Futuro - Netflix)
Imaginem se um sósia de Lampião fizesse uma viagem para o passado e fosse confundido com o famoso cangaceiro. E se ele tivesse o desplante de tirar proveito da situação, você diria que ele é louco ou corajoso? Pois é, na Série O Cangaceiro do Futuro, com todos os riscos e benesses, Virguley (Edimilson Filho) se passa pelo homem mais temido do sertão, acreditando que vai se dar bem.
Quero destacar o elenco primoroso, só de olhar para os personagens como o Coronel Tiburcio (Fábio Lago) e a Escandalosa (Solange Teixeira) eu já queria rir. O bando de Virguley Lampião também merece destaque, pois só numa produção de humor conseguimos imaginar tais tipos como cangaceiros.
(Imagem da Série O Cangaceiro do Futuro - Netflix)
Gostei muito da Amélia (Mariana Costa), me fez lembrar da personagem Ofélia (Claudia Rodrigues de Zorra Total), mas ao invés de ser emendada pelo marido, ela costuma ser corrigida pela irmã que é muito inteligente. Todavia, com seu jeito inocente, Amélia encontra respostas que ajudam o grupo, o que é uma ótima sacada em tempos em que questionamos tanto os esteriótipos, porém não queremos abrir mão de um bom riso. Brincar com grandes referências e adicionar algumas mudanças leva a comédia a um passo adiante e deixa pessoas bobas alegres (como é meu caso) felizes da vida por rir do presente, lembrando do passado.
Como se pode esperar, a trilha sonora apresenta ritmos nordestinos, porém a música western carrega a série de certa comicidade, pois os personagens contradizem o que se espera de um coronel poderoso, um policial valente e sobretudo uma lenda como Lampião.
Não pretendo dar spoliers, mas preciso fazer alguns destaques.
Como se não bastassem as confusões criadas pela semelhança física entre Virguley e Virgulino Ferreira da Silva, o deslocamento temporal do protagonista garante diálogos bem humorados, já que personagens de 1927 não conhecem expressões como franquia, por exemplo. E como Virguley tem um bando bem atrapalhado, imaginem como ficam as ações e reações dos "cangaceiros", já que o líder fala uma linguagem quase impossível de compreender.
Nesta comédia, o próprio desenvolvimento da história gera humor, pois não só a fala do protagonista, mas suas "soluções" sofrem uma adaptação que mescla a vida dos tempos atuais com o tempo de Lampião. Desta forma, em algum momento, Virguley cria um negócio para conseguir dinheiro e é óbvio que há um serviço de Atendimento ao Cliente. Não vou estragar as surpresas, mas quero registrar que na qualidade de consumidora insatisfeita com muitos serviços, me senti muito representada.
Numa conversa de família por causa da série, descobri que o avô do meu marido foi Macaco (como eram chamados os policiais) e que chegou a ver Lampião de longe, pois ele vivia cercado por muitos cangaceiros, mas esta é outra história que vô Arnaldo deve estar contando lá no céu. Vô Arnaldo veio morar no Rio de Janeiro, teve seis filhos, trabalhou muito e escapou de ser preso como comunista porque alguém teve pena de deixar as crianças sem pai e porque ele aceitou o conselho de queimar os livros de Karl Marx. Essa história fala muito sobre a força e a sagacidade do povo nordestino.
É interessante notar que o Nordeste é famoso como lugar de cabra macho e ao mesmo tempo é terra de muitos comediantes. Seja pela dureza dos solos áridos que cobram resistência, seja pelo humor que nasce como crítica e resiliência, Virguley me faz lembrar a imagem de um malandro, um tipo especial que mistura malandragem e palhaçada. Porém, talvez Virguley seja apenas mais um nordestino que precisa lutar tanto para viver em cidades como São Paulo, quanto em sua própria terra.
A série está na Netflix tem a direção de Halder Gomes e Glauber Filho e roteiro de Chico Amorim, Paulo Leierer, Clara Deak, Lucas de Rosa e Halder Gomes.
Rosa Scarlett
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