Rosa Araujo
Havia perdido o amor de sua vida há alguns setembros e a dor de não tê-la mais ao seu lado nunca cessara.
Morava nas memórias do amor que construíram juntos, sentia seu cheiro pela casa, ouvia sua voz pelos cômodos a comentar sobre politica, samba e literatura, seus três assuntos preferidos. Preparava-se para um futuro de jovem viúvo solitário, afinal ainda não completara nem 50 anos e ela havia partido, assim, tão cedo, assim tão de repente. Não tinha mais interesse em novos amores.
Veio mais um setembro. Novamente o ciclo memórias, saudade e dor aumentaria de intensidade. Já estava acostumado. O que ele não sabia é que nesse setembro, uma menina cruzaria o seu caminho e quebraria o seu confortável luto.
Ela apareceu em uma tarde chuvosa, bateu a sua porta, pedindo informações sobre a localização de uma certa casa em sua rua. Ele disse não saber, não conhecia tal família. Ela então, um tanto afoita, pediu-lhe um copo d’água, o qual ele se apressou em buscar. Pediu que ela entrasse, uma vez que a chuva engrossara. Entrou. Olharam-se. Reconheceram-se.
A partir daquele dia, para ele, setembro ressignificou-se. Para ela, memórias começaram a ser construídas. Juntos, transformaram-se e seguiram em frente.
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